28 set
Setembro Amarelo: a prevenção acontece todos os dias
Por Ismael Siqueira, professor do curso de Psicologia do Unilavras.
Estamos no fim do mês e mais um “Setembro Amarelo” já está acabando. Por outro lado, o problema do suicídio permanece o ano todo. É importante lembrar disso, pois a informação é a maior arma na prevenção e tratamento de pessoas que tentaram tirar a própria vida.
Particularmente, não gosto de expressões como “combate ao suicídio”, justamente por se referirem ao contexto de guerra. Se pensarmos um pouco, nós guerreamos ou combatemos somente aquilo que odiamos, independente do motivo. Assim, se lembrarmos que por trás de todo ato suicida, existe uma pessoa em desespero, as expressões como “guerra contra o suicídio” ou “combate ao suicídio” deveriam ser revistas e trocadas por palavras como: prevenção, acolhimento, cuidado e tratamento.
Como psicanalista, encontro nas palavras meu instrumento de trabalho e, todos nós sabemos o poder contido nelas. As ideias de bendizer ou maldizer, de onde vêm ideias como benção, benzedura e maldição, atestam isso. Por isso, uma pessoa na iminência de um ato suicida ou mesmo aquela que tem a mente tomada pela ideia de suicídio, terá a necessidade de usar a palavra, seja para pedir ajuda a alguém de sua confiança ou mesmo para justificar os motivos que a levaram a cometer tal ato, através de cartas.
Este é o primeiro mito em relação ao suicídio que precisamos derrubar: “Quem quer se matar mesmo, não manda aviso, vai lá e faz”.
Estatísticas da OMS mostram que mais da metade das pessoas que tentam suicídio, enviam algum tipo de mensagem ou pedido de ajuda a pessoas de sua confiança.
Imagine o efeito da falta de compreensão sobre a pessoa que já se encontra em desespero. Por isso, se você convive ou conhece alguém em risco de suicídio a primeira recomendação é: apenas ouça o que essa pessoa tem a dizer. Sem opinar. Sem julgar.
O segundo mito em relação ao suicídio que também precisamos derrubar é a ideia de que o ato suicida é um problema de ordem moral ou religiosa: “suicídio é falta de Deus”. Mais de 90% das pessoas que tentam suicídio possuem algum tipo de transtorno mental associado. Os Transtornos Depressivos estão ligados a quase metade das tentativas de suicídio no mundo. Dessa forma, esse dado evidencia que o suicídio é um problema de saúde mental e precisa ser tratado como tal.
Então, é importante encaminhar a pessoa que está pedindo ajuda para o tratamento com psicólogo e psiquiatra. Assim estes profissionais poderão avaliar a situação e tomar as medidas terapêuticas necessárias a cada caso.
Para terminar, é importante falar sobre dois assuntos que sempre aparecem quando se fala sobre suicídio: causas e formas de prevenção.
Compreender as causas do suicídio implica em compreender toda a complexidade da vida humana e os diferentes nuances do seu sofrimento. Para dar uma ideia dessa complexidade, vou abrir mão da teoria e utilizar uma metáfora: imagine que as pessoas são como bolhas de sabão. As bolhas só conseguem se manter inteiras se pousarem em ambientes que acolham a sua fragilidade. Caso contrário, estouram. Há bolhas mais resistentes e bolhas mais frágeis, bolhas grandes e bolhas pequenas. Nesse sentido, é a história de cada bolha, do que é feita, com que pressão foi soprada, por onde voou, que explica as motivações para ser quem é e fazer o que faz.
Somos produtos da nossa história ligada à nossa biologia e condições de vida: somos seres biopsicossociais. E a nossa psique é onde armazenamos todas as marcas da interação com outras pessoas e o meio em que vivemos. A psique mostra a resistência da bolha: por isso é importante cuidar dela para que não estoure.
Mas como cuidar da psique?
Bom, psique não existe sem corpo (pelo menos em pessoas vivas) e corpo não existe sem um meio social. Cuidar da psique, implica em cuidar do corpo que, por sua vez, implica em tornar o meio social mais acolhedor. Essa é a diretriz de prevenção ao suicídio da OMS.
Participação na comunidade, condições de vida, relacionamentos profundos e significativos, religião, acesso a saúde, educação e moradia, boas condições de trabalho e outras medidas de melhoramento social, são fundamentais para a prevenção do suicídio. Dessa forma, quanto mais melhorarmos o local onde as pessoas vivem, menos sofrimento individual produzimos. A vida e a saúde mental individual se ligam diretamente à saúde mental e à vida da coletividade. Para prevenir o suicídio é preciso abrir os olhos para o todo.