A nova relação com a casa durante o isolamento social

Por Marisa Pereira, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Unilavras

 

Podemos dizer que as transformações das nossas casas estão relacionadas diretamente com as transformações da vida urbana. Associar o usuário ao ambiente construído sempre foi uma tarefa essencial para o arquiteto urbanista. Neste momento, ficar em nossas casas nos foi exigido como uma forma de controlar a pandemia da Covid-19.

As mudanças nas relações humanas também possibilitaram o ato de ficar em casa, como home office, o ensino à distância e os serviços de entrega em domicílio. Por outro lado, nós não esperávamos que esta fosse se tornar a nossa única e melhor opção no momento.

Esta nova realidade nos fez valorizar ainda mais a nossa casa e ampliar o sentido do “lar”, visto até então como local singular do convívio familiar. Agora, dividimos este mesmo espaço com as atividades do trabalho, da educação, dos exercícios físicos, do refúgio e do descanso.

Na Idade Média, a pandemia da Peste Negra vitimou milhões de pessoas. De lá para cá, a necessidade de se transformar os ambientes, na iluminação e ventilação natural, foi mais bem observada nas edificações. Assim, também, devemos começar a observar, a experimentar e a aperfeiçoar diferentes aspectos dentro das nossas casas.

 

“Arquitetura nos conta alguma coisa sobre o mundo. Conta algo sobre a história, a cultura, como a sociedade funciona e, por fim, nos conta quem somos”.  (Colin, 2018)

 

Espaços e áreas utilizadas nas residências como transitórios, ou seja, subutilizados deverão ser modificados. Seja pela sua boa iluminação e ventilação natural, ou para os novos usos familiares, estes ambientes serão mais valorizados.

A área gourmet, refúgio dos amigos para diversão dos finais de semana, no isolamento social é o espaço para o convívio familiar. Os amigos se tornaram virtuais, e a família o real. Hoje o escritório, usado para flexibilização do trabalho, divide a função com as atividades escolares dos filhos. Nós não identificávamos o ensino remoto como uma possibilidade. Nossa realidade era, na maioria das vezes, priorizar a tecnologia como distração da escola. Assim, o isolamento social nos mostrou novas demandas e possibilidades projetuais que provavelmente serão pontos valorizados no cenário pós-pandemia.

Dentro desses pontos, precisaremos criar áreas na entrada da nossa casa para higienização. Estabelecer o limite entre o externo (cidade) e o interno (casa) será essencial. Talvez este momento nos faça repensar a função do lavabo, até então, um lugar escondido e pouco utilizado na rotina doméstica. Atualmente ele é uma das áreas essenciais para a segurança e saúde da família.

A flexibilização das atividades nos espaços também é um destes requisitos: possibilitar estudar, trabalhar e alimentar em áreas diferentes das convencionais. Tudo isso nos faz pensar em mobiliários e propostas arquitetônicas inovadoras e condizentes com essas atividades.  Assim, sentar-se na varanda e trabalhar a tarde com o sol aos pés, em um dia frio, contribuirá para a produtividade no trabalho e qualidade de vida.

 

O refúgio dos familiares nessa nova casa poderá ser um local tranquilo, como o banheiro e seu ofurô, ou a varanda com a horta orgânica.

Ainda mais uma sala de estar espaçosa para meditação e descanso em uma tarde. Assim, teremos que conciliar o novo estilo de vida. A nova tendência será diminuir o consumismo e valorizar poucos itens. Esta valorização será mais afetiva do que econômica, dentro dos projetos arquitetônicos.

E como receber os amigos com segurança? Esse será o grande desafio dos arquitetos: planejar áreas de lazer seguras e úteis, sejam coletivas ou familiares. Será preciso criar áreas de higienização e controle dos usuários, possibilitar aberturas para criar ventilação cruzada. Logo, o desenvolvimento de espaços mais amplos e abertos, ou até mesmo áreas intimistas para receber grupos menores, será primordial.

Enfim, teremos muitas mudanças nesta nova realidade da nossa casa, mas com certeza teremos uma construção positiva e familiar mais agradável. Afinal, como diz a professora Anália Amorim (2020) em um bate-papo com Cristiana Pasquini, da escola aberta no galpão, “descobriremos coisas boas do acaso, coisas boas do ato de mudar, no ato de fazer e aperfeiçoar”.

 

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